O Brasil precisa rever seu conceito de masculinidade, nem todo homem hétero gosta de futebol ou se encaixa dentro do padrão social


Por Davi Gustavo de Castro e Silva 
03 de outubro de 2024

No Brasil, a afirmação de que "todo homem entende de futebol" é um estereótipo que limita a expressão dos homens e reforça a homofobia. Mas vamos desmascarar essa narrativa que reduz a masculinidade a um único interesse e comportamento.

Dados recentes indicam que 76% dos brasileiros se declaram torcedores de algum time, mas isso não significa que todos os homens tenham um conhecimento real sobre o esporte. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) revelou que 52% dos homens afirmam não entender as regras do jogo. Além disso, 55% não conseguem citar mais de cinco jogadores de seus times, e 40% não sabem diferenciar um escanteio de uma falta.

Esses dados nos mostram que a paixão pelo futebol pode ser, na verdade, superficial e muitas vezes imposta pelas normas sociais patriarcais.

A masculinidade tradicional é frequentemente definida por interesses como o futebol e pela forma como os homens se comportam em público. Segundo a ONU Mulheres, 38% dos homens sentem que não são suficientemente masculinos por não se interessarem por futebol. Essa pressão social é uma forma de controle que alimenta a masculinidade tóxica, fazendo com que muitos homens sintam que precisam se encaixar em um padrão.

Referindo-se ao trabalho de Manari, é importante destacar que todas as características atribuídas ao que é "masculino" ou "feminino" são, em última análise, construções sociais que não devem ser vistas como imutáveis. O ato de gesticular, por exemplo, é frequentemente rotulado como "feminino", mas não deveria ser. Cada indivíduo tem o direito de expressar sua identidade sem medo de represálias.

A sociedade brasileira ainda está presa à estrutura de uma cultura machista e conservadora, que conserva estereótipos que não deveriam ser mantidos. Essa resistência à mudança dificulta a aceitação de comportamentos que não se encaixam na norma tradicional.

Os comportamentos associados à masculinidade não se limitam a interesses esportivos. O simples ato de cruzar as pernas ou gesticular de forma expressiva pode ser visto como um comportamento "feminino", mas é importante destacar que esses gestos não devem ser considerados indicadores de orientação sexual ou de fraqueza.

Um estudo do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) constatou que 48% dos homens heterossexuais reconhecem ter comportamentos ou interesses que se encaixam nos estereótipos femininos, como o cuidado com a aparência ou a sensibilidade emocional. 

Além disso, a pressão para se conformar a comportamentos masculinos pode levar homens a optarem por carreiras menos satisfatórias, mas que se alinham mais à expectativa social. Isso não só impacta a satisfação pessoal, mas também limita a renda e as oportunidades de crescimento.

É importante ressaltar que o fato de um homem exibir características consideradas "femininas" não tem relação direta com sua orientação sexual. Pesquisas apontam que entre os homens homossexuais, 62% se identificam com comportamentos tradicionalmente masculinos, desafiando a ideia de que a homossexualidade está ligada a uma apresentação de gênero mais afeminada.

Portanto, se seguíssemos a lógica de rotulação, a maioria dos homens brasileiros seria considerada "corpórea" e, portanto, homossexual, o que claramente não reflete a realidade. Isso demonstra que a masculinidade e a orientação sexual são muito mais complexas do que os estereótipos sugerem.

Desconstruir esses estereótipos é essencial para criar uma sociedade mais inclusiva, onde todos possam expressar seus interesses e identidades sem medo de repressão. 60% dos homens podem ter vozes consideradas "femininas", cruzar as pernas ou gesticular de forma expressiva, mas isso não deve ser motivo de discriminação.

Chegou a hora de redefinir a masculinidade e celebrar a diversidade de interesses. Quebremos as correntes que nos prendem a estereótipos opressivos e lutemos por uma sociedade onde cada homem possa ser autêntico, livre para ser um apaixonado por política, arte ou qualquer outra paixão que deseje explorar.

A verdadeira masculinidade se encontra na pluralidade, na liberdade de expressão e na luta coletiva por justiça social. Vamos juntos desmantelar esses estereótipos e construir um futuro mais inclusivo para todos!

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