Entrevista Exclusiva: Presidenta Dilma Rousseff Fala Sobre Desafios da Democracia Brasileira e Superação de Crises do Capitalismo Alá-Brasileira

Hoje pela segunda vez, me sinto privilegiado por ter a oportunidade de conduzir esta entrevista com uma figura tão emblemática da política brasileira. É com grande honra que anuncio que estamos aqui com a nossa saudosa, amada e eterna presidenta, Dilma Rousseff. Esta é a minha segunda entrevista com ela, e estou animado para explorar suas reflexões sobre sua trajetória, os desafios enfrentados durante seu mandato e suas visões para o futuro do Brasil. Vamos começar!"

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[Entrevista]

1. Davi: "Presidenta Dilma, ao refletir sobre sua trajetória política, desde seus primeiros passos no movimento estudantil até se tornar a primeira mulher a ocupar a presidência do Brasil, como você descreveria essa jornada e quais momentos você considera mais marcantes e significativos, tanto em termos de conquistas quanto de desafios enfrentados?"

Dilma: "Minha jornada foi repleta de aprendizados e desafios. Desde os tempos de estudante, quando me envolvi na luta contra a ditadura militar, percebi que a política é uma ferramenta poderosa para a transformação social. Um dos momentos mais marcantes foi quando assumi o ministério da Casa Civil, onde pude implementar políticas públicas voltadas para a inclusão social. Entretanto, o impeachment foi um divisor de águas, pois não apenas me afetou pessoalmente, mas também afetou a democracia brasileira. Foi um período em que percebi a resistência e a importância de lutar pelos valores que sempre defendi, como justiça e igualdade."

2. Davi: "Você mencionou o impeachment. Considerando a polarização política que caracteriza o Brasil atualmente, como você interpreta os eventos que levaram ao seu afastamento e quais lições você acredita que a sociedade deve aprender para evitar crises semelhantes no futuro?"

Dilma: "O impeachment que enfrentei foi, sem dúvida, um golpe disfarçado, uma tentativa de derrubar uma presidenta eleita democraticamente. O que precisamos entender é que crises políticas não são apenas sobre indivíduos, mas refletem uma crise de representação. A lição mais importante que devemos aprender é a necessidade de um diálogo aberto entre todas as partes envolvidas na política. A democracia é um processo que exige participação ativa e comprometimento de todos os cidadãos. Evitar novas crises depende de construirmos uma cultura política que valorize o respeito, a tolerância e o compromisso com a verdade."

3. Davi: "Durante seu governo, o Brasil passou por uma crise econômica significativa. Quais foram as medidas mais importantes que você implementou para enfrentar essa crise e como você avalia a eficácia dessas ações em termos de impacto no dia a dia da população?"

Dilma: "A crise econômica exigiu uma abordagem multifacetada. Implementamos o ajuste fiscal, que buscou estabilizar as contas públicas, ao mesmo tempo que mantivemos nossos programas sociais, como o Bolsa Família, que foram vitais para milhões de brasileiros. Além disso, fizemos investimentos em infraestrutura, que visavam não apenas gerar empregos, mas também estimular o crescimento econômico a longo prazo. Avaliando agora, percebo que as medidas tomadas foram necessárias, mas desafiadoras, pois exigiram um equilíbrio delicado entre austeridade e proteção dos direitos dos mais vulneráveis."

4. Davi: "A inclusão social e a redução da pobreza sempre foram temas centrais em sua administração. Quais iniciativas você acredita terem sido as mais eficazes para combater a pobreza e a desigualdade no Brasil durante seu governo, e como você enxerga a continuidade dessas políticas no contexto atual?"

Dilma: "O Bolsa Família foi um dos programas mais significativos, pois conseguiu tirar milhões de brasileiros da extrema pobreza. Também destaco a valorização do salário mínimo e o acesso à educação superior por meio do PROUNI, que ampliou as oportunidades para muitos jovens. A continuidade dessas políticas é crucial, especialmente em tempos de crise, pois elas não apenas aliviam a pobreza imediata, mas também constroem uma sociedade mais justa e equitativa. O desafio é que esses programas não sejam vistos apenas como assistencialismo, mas como direitos fundamentais que devem ser garantidos pelo Estado."

5. Davi: "A educação foi uma prioridade em sua gestão, refletindo seu compromisso com o futuro do Brasil. Quais foram as principais políticas educacionais que você implementou, e como você vê o papel da educação na construção de uma sociedade mais justa e igualitária?"

Dilma: "A expansão do sistema educacional foi uma das minhas maiores prioridades. Criamos novas universidades e institutos federais, além de expandir o PROUNI. Acredito firmemente que a educação é a chave para a emancipação social. Ela transforma vidas e proporciona oportunidades. No entanto, a educação deve ser de qualidade e acessível a todos, não apenas a uma elite. Isso significa investir em infraestrutura, formação de professores e garantir que os alunos tenham um ambiente seguro e estimulante para aprender."

6. Davi: "Você falou sobre o papel da educação. Como você vê o futuro das universidades e o acesso ao ensino superior no Brasil, especialmente em um cenário onde a educação enfrenta desafios financeiros e estruturais?"

Dilma: "O futuro das universidades depende do nosso compromisso com a educação pública e de qualidade. É fundamental que continuemos a investir nas universidades, pois elas são essenciais para o desenvolvimento do país. Acredito que devemos também buscar parcerias com o setor privado, mas sempre garantindo que a educação permaneça acessível a todos, independentemente de sua condição social. O acesso ao ensino superior não deve ser um privilégio, mas um direito."

7. Davi: "Considerando sua experiência, qual é a sua perspectiva sobre o papel do Brasil no cenário internacional e como você acredita que o país deve se posicionar frente a desafios globais como as mudanças climáticas e a desigualdade social?"

Dilma: "O Brasil tem um papel fundamental na promoção da paz e no desenvolvimento sustentável. Precisamos ser proativos na luta contra as mudanças climáticas, investindo em energias renováveis e preservando nossos recursos naturais. Além disso, devemos trabalhar com outros países para enfrentar a desigualdade social, que é um problema global. O Brasil pode ser um líder nesse debate, compartilhando suas experiências e aprendendo com outros países que enfrentam desafios semelhantes."

8. Davi: "No contexto atual, como você avalia o papel das redes sociais e da comunicação na política? Você considera que elas têm contribuído mais para a desinformação ou para a mobilização social?"

Dilma: "As redes sociais têm um papel ambíguo. Por um lado, são uma ferramenta poderosa para mobilizar e engajar a sociedade civil, especialmente os jovens. Por outro lado, também podem ser um veículo para a desinformação e a disseminação de fake news. A comunicação política deve ser clara e transparente, utilizando essas plataformas para informar e educar, e não para manipular. O desafio é criar um ambiente digital que promova o debate saudável e o respeito mútuo."

9. Davi: "Diante da crescente polarização política no Brasil, que estratégia você sugeriria para promover o diálogo e a reconciliação entre diferentes setores da sociedade?"

Dilma: "A polarização é um desafio que deve ser enfrentado com empatia e diálogo. Devemos construir espaços onde diferentes opiniões possam ser ouvidas e respeitadas. Uma estratégia é incentivar a participação cidadã em fóruns de debate e em espaços públicos, onde as pessoas possam discutir suas ideias de forma construtiva. O respeito à diversidade de opiniões é fundamental para a construção de uma sociedade mais unida."

10. Davi: "Como você avalia o papel da mulher na política brasileira e quais são as principais barreiras que ainda precisam ser superadas para garantir uma maior representatividade feminina?"

Dilma: "A representatividade feminina ainda é uma questão crítica. Embora tenhamos avançado, as mulheres ainda enfrentam barreiras significativas, como discriminação e falta de apoio nas candidaturas. É vital que continuemos a lutar por políticas que incentivem a participação das mulheres na política, incluindo financiamento para campanhas e formação política. A inclusão das mulheres na política é essencial para que possamos ter uma visão mais ampla e equitativa das questões que afetam a sociedade."

11. Davi: "Após sua saída da presidência, qual tem sido o seu papel na política e na sociedade? Como você continua contribuindo para as causas que defende?"

Dilma: "Após meu impeachment, continuei a lutar pelos direitos dos brasileiros e pela defesa da democracia. Tenho me envolvido em movimentos sociais e participado de eventos que promovem a justiça social e a igualdade. Acredito que é importante continuar a dar voz às lutas que considero justas e necessárias, especialmente em um momento tão delicado para a nossa democracia."

12. Davi: "Quais são suas reflexões sobre a juventude brasileira e seu papel na política? Como você vê a participação dos jovens nas questões sociais e políticas atuais?"

Dilma: "A juventude tem um papel crucial na política. Eles são os agentes de mudança, trazendo novas ideias e perspectivas. É inspirador ver jovens se mobilizando em torno de questões como o meio ambiente, direitos humanos e justiça social. Devemos apoiar e encorajar essa participação, pois os jovens são o futuro do país e têm o poder de moldar a sociedade em que viverão."

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13. Davi: "Você já falou sobre o impacto das políticas sociais em sua gestão. Como você acredita que essas políticas podem ser mantidas ou até expandidas no contexto atual de austeridade fiscal? Com a atual crise econômica que o Brasil enfrenta, muitos especialistas e analistas apontam que a pressão sobre os gastos públicos tem levado a cortes significativos em programas sociais. No entanto, dados do IBGE indicam que a pobreza extrema aumentou durante a pandemia, fazendo com que mais de 25 milhões de brasileiros vivessem com menos de R$ 246 por mês em 2021. Diante desse cenário, quais estratégias você sugeriria para garantir a continuidade e a expansão das políticas sociais, especialmente em um cenário onde muitos argumentam que a redução do déficit fiscal deve ser a prioridade número um do governo?"

Dilma: "A manutenção e a expansão das políticas sociais são fundamentais, especialmente em tempos de crise. Precisamos entender que investir em programas sociais não é apenas uma questão de gasto público, mas sim um investimento no futuro do país. Os dados que você mencionou são alarmantes e evidenciam a urgência de ações efetivas. O aumento da pobreza e da desigualdade social exige que adotemos uma abordagem que priorize a proteção dos mais vulneráveis. Para enfrentar a austeridade fiscal, proponho algumas estratégias: primeiro, a reavaliação das prioridades orçamentárias, priorizando investimentos que comprovadamente geram retorno social, como saúde, educação e assistência social. Em segundo lugar, a implementação de uma reforma tributária que possa garantir que os mais ricos contribuam de forma justa, diminuindo a carga sobre as classes média e baixa. O Brasil ainda tem um sistema tributário regressivo, onde a maior parte da carga recai sobre os mais pobres. Portanto, aumentar a taxação sobre grandes fortunas e lucros das empresas poderia gerar receita suficiente para manter e expandir políticas sociais. Por fim, devemos incentivar uma maior transparência e controle social sobre os gastos públicos, garantindo que cada real investido em políticas sociais atenda realmente às necessidades da população."


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14. Davi: "Quando você assumiu a presidência, o Brasil experimentava um crescimento econômico robusto, mas posteriormente, enfrentou uma grave recessão que impactou a vida de milhões. Dados do IBGE mostram que o PIB brasileiro caiu 7,2% entre 2015 e 2016, um dos maiores recuos da história. Levando em conta essas informações, como você analisa o papel do governo em períodos de crise econômica? Quais deveriam ser as principais prioridades em termos de políticas públicas para não apenas mitigar os efeitos da recessão, mas também preparar o país para uma recuperação sustentável e inclusiva? Além disso, como você acredita que as lições aprendidas durante seu governo podem ser aplicadas a administrações futuras, especialmente no contexto de crises econômicas e políticas semelhantes?"

Dilma: "A crise econômica que enfrentei foi um teste severo para as políticas que implementei. É fundamental que, em períodos de recessão, o governo atue de forma proativa para proteger os empregos e garantir a renda das pessoas. Durante a crise, vi que medidas como a criação de programas de geração de emprego, como o 'Carta aos Brasileiros', que focava em fomentar o emprego em setores como construção civil e infraestrutura, foram essenciais para mitigar os impactos negativos da recessão. As prioridades em uma crise devem incluir o fortalecimento da rede de proteção social, como o Bolsa Família e outros programas que garantem a segurança alimentar. Precisamos também estimular a economia através de investimentos públicos em infraestrutura, que não apenas criam empregos imediatamente, mas também preparam o terreno para um crescimento sustentável a longo prazo. As lições aprendidas incluem a importância de uma comunicação clara e transparente com a população sobre as dificuldades e as medidas que estão sendo tomadas. Em um ambiente polarizado, é crucial que o governo busque o diálogo e a construção de consensos em vez de decisões unilaterais. Isso ajuda a mitigar a resistência e a construir um caminho mais sólido para a recuperação econômica."


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15. Davi: "Outro aspecto relevante da sua administração foi a promoção dos direitos humanos e das políticas voltadas para a diversidade, especialmente no que diz respeito às questões de gênero e raça. Dados do IBGE indicam que mulheres ainda ganham, em média, 20% a menos do que homens no Brasil, e que a população negra e parda enfrenta desigualdades ainda mais acentuadas. Diante desse panorama, quais foram as iniciativas mais significativas que você implementou para promover a igualdade de gênero e racial durante seu governo? E como você vê o avanço das políticas públicas voltadas para a inclusão social e a promoção dos direitos humanos no Brasil contemporâneo? Que desafios ainda precisam ser superados para que essas políticas se tornem efetivas e abrangentes?"

Dilma: "Durante meu governo, buscamos implementar uma série de políticas voltadas para a promoção da igualdade de gênero e raça. O Programa Mulher, que buscou não apenas fortalecer a presença feminina na política, mas também garantiu que questões como violência contra a mulher fossem tratadas com a seriedade necessária. Criamos o 'Mulher, Viver sem Violência', que visava criar redes de proteção e apoio para mulheres vítimas de violência. Em relação à população negra e parda, implementamos o Sistema de Cotas nas universidades federais e institutos, o que representou um avanço significativo na inclusão desses grupos no ensino superior. Contudo, as desigualdades persistem e são profundamente enraizadas em nossa sociedade. O que precisamos fazer agora é garantir que essas políticas sejam sustentadas e ampliadas, investindo na formação e no apoio a lideranças negras e femininas. O desafio maior ainda é mudar a cultura da sociedade que perpetua essas desigualdades. Isso exige um esforço contínuo de educação e conscientização, além de políticas públicas que garantam não apenas a inclusão, mas também a valorização dessas identidades. O Brasil precisa abraçar sua diversidade e trabalhar ativamente para garantir que todos tenham oportunidades iguais."

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16. Davi: "Na sua opinião, qual é o papel da cultura na construção de uma sociedade mais justa e igualitária? Considerando que a cultura é uma ferramenta poderosa de transformação social, quais iniciativas culturais você acredita que poderiam ser mais efetivas para promover a inclusão e a diversidade? Além disso, como você vê a relação entre a cultura e a identidade nacional, e de que forma a valorização da cultura pode contribuir para a coesão social e o fortalecimento da democracia no Brasil?"

Dilma: "A cultura desempenha um papel fundamental na formação da identidade nacional e na promoção da coesão social. Através da arte e da cultura, podemos contar nossas histórias, celebrar nossas diversidades e construir um entendimento mútuo entre diferentes grupos. Durante meu governo, procurei apoiar iniciativas que valorizassem a cultura popular, como a Lei Rouanet e programas de incentivo ao cinema e à música, que permitiram que vozes de diversas origens fossem ouvidas e celebradas. Iniciativas culturais efetivas devem focar em promover a inclusão e garantir que todos tenham acesso às expressões culturais, independentemente de sua classe social ou origem. Isso significa investir em centros culturais em áreas periféricas, fomentar a produção artística de grupos marginalizados e garantir que a educação artística esteja presente nas escolas. Valorizando a cultura, não apenas promovemos a diversidade, mas também fortalecemos a democracia, já que a cultura é um meio de expressão e resistência. Quando damos voz a todos os segmentos da sociedade, estamos contribuindo para uma democracia mais robusta, onde todos se sentem parte do processo."

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17. Davi: "A questão ambiental é uma preocupação crescente no cenário global, e o Brasil, com sua vasta biodiversidade e florestas tropicais, tem um papel crucial a desempenhar. Dados da Organização das Nações Unidas indicam que o Brasil abriga aproximadamente 20% das florestas do mundo e é responsável por cerca de 10% da biodiversidade global. Quais foram as políticas ambientais mais relevantes implementadas durante sua presidência e como você acredita que o país pode equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental no futuro? Além disso, como você avalia a relação entre as questões ambientais e os direitos das populações indígenas e tradicionais que habitam essas áreas?"

Dilma: "Durante meu governo, a proteção ambiental foi uma prioridade. Implementamos o Código Florestal, que, apesar das controvérsias, buscou encontrar um equilíbrio entre a preservação das florestas e o desenvolvimento agrícola. Também reforçamos a fiscalização e o combate ao desmatamento na Amazônia, o que resultou em uma queda significativa nas taxas de desmatamento durante meu mandato. No entanto, a verdadeira proteção do meio ambiente só será alcançada se conseguirmos integrar as comunidades locais nas decisões que afetam seus territórios. Isso inclui respeitar e proteger os direitos das populações indígenas e tradicionais, que são guardiãs do conhecimento ancestral sobre a biodiversidade. Precisamos garantir que suas vozes sejam ouvidas e que suas terras sejam respeitadas. Para o futuro, o Brasil deve investir em uma economia verde, onde a sustentabilidade esteja no centro do desenvolvimento econômico. Isso envolve criar empregos em setores como energia renovável e turismo sustentável, promovendo uma economia que respeite tanto o meio ambiente quanto as comunidades que dele dependem."

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17. Davi: "Presidenta Dilma, muito se fala sobre o golpe de 2016, que foi um momento extremamente delicado e traumático para o Brasil. Especialmente porque diversos juristas renomados, como o professor Miguel Reale Júnior, apontaram que não houve crime de responsabilidade comprovado, sendo o impeachment amplamente criticado como um golpe travestido de legalidade. De acordo com dados do IBOPE à época, sua aprovação estava relativamente baixa, refletindo o clima de insatisfação após a crise econômica de 2014-2016. Mesmo assim, a narrativa que prevalece entre muitos analistas é a de que o impeachment foi um movimento político para impedir a continuidade de um projeto de governo voltado à inclusão social e à distribuição de renda. Como a senhora enxerga esse processo sob essa ótica? O impeachment de fato se configurou como um golpe contra o governo legitimamente eleito?"

Dilma: "Davi, eu não tenho dúvida alguma de que o impeachment foi um golpe. Não porque eu quisesse me vitimizar, mas porque o processo que ocorreu no Brasil foi um desvio gravíssimo da nossa democracia. Como você mesmo mencionou, não houve crime de responsabilidade. O que se alegou contra mim foram as chamadas 'pedaladas fiscais', algo que era uma prática comum em gestões anteriores e que nunca foi motivo para impeachment. O golpe foi uma estratégia para tirar do poder um governo que representava os interesses da classe trabalhadora e dos mais pobres, um governo que investiu pesado em programas de inclusão social, como o Bolsa Família, e que trouxe milhões de brasileiros para fora da linha da pobreza. Não se tratava de me atacar pessoalmente, mas de barrar um projeto político que incomodava as elites do país, que nunca aceitaram de fato as conquistas sociais obtidas nos governos do PT. Eu sofri uma enorme pressão política e midiática. O parlamento brasileiro, sob o comando de Eduardo Cunha, instrumentalizou esse processo para atender a interesses muito claros. Era uma tentativa de desmantelar o legado do PT e, ao mesmo tempo, aplicar uma agenda neoliberal que seria impossível de passar nas urnas. E, infelizmente, isso aconteceu às custas da nossa democracia."

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18. Davi: "Presidenta, ainda sobre o impeachment/golpe, diversas análises indicam que seu governo enfrentou um boicote sistemático, tanto no Congresso quanto na mídia, o que dificultou a governabilidade. De acordo com o levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), seu governo enfrentou 68 pedidos de impeachment em menos de seis anos, algo inédito na história recente do Brasil até aquele presente momento, e o único que veio a superar isso foi Jair bolsonaro que teve 112 pedidos de impeachment. Podemos considerar que essa oposição ferrenha, muitas vezes calcada em questões políticas e ideológicas, também foi um fator decisivo para o golpe que culminou em sua saída da presidência?"

Dilma: "Sim, Davi. Desde o começo do meu segundo mandato, enfrentei uma oposição que não tinha qualquer interesse em dialogar. Era um boicote orquestrado para inviabilizar meu governo e criar uma narrativa de crise permanente. Você mencionou os 68 pedidos de impeachment, que é um dado que ilustra bem o que foi aquele período: uma tentativa incessante de desestabilizar o governo. Além do Congresso, a grande mídia também teve um papel central nesse boicote. A maneira como os principais veículos de comunicação cobriram meu governo, muitas vezes manipulando informações e criando um clima de instabilidade, foi determinante para aumentar a pressão sobre o Planalto. Não era uma cobertura jornalística isenta, era uma campanha diária contra o governo. E claro, houve um boicote explícito no Congresso, liderado por figuras como Eduardo Cunha, que travaram pautas importantes e sabotaram nossas propostas de ajuste econômico, o que dificultou ainda mais a governabilidade. Não se tratava de uma oposição política democrática, mas de uma oposição destrutiva, que visava exclusivamente me tirar do poder."

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19. Davi: "Analisando o contexto econômico em que se deu o impeachment, é importante destacar que, em 2015, o Brasil atravessava uma grave crise econômica. O PIB teve uma retração de 3,8% naquele ano, a inflação atingiu 10,67% e o desemprego chegou a mais de 10 milhões de pessoas. Sabemos que a crise foi alimentada por fatores externos, como a queda no preço das commodities e a desaceleração da economia chinesa, e internos, como a Operação Lava Jato, que paralisou setores inteiros da economia. Você sente que a oposição utilizou essa crise como uma forma de enfraquecer ainda mais seu governo e justificar o impeachment?"

Dilma: "Sem dúvida, querido e você como um garoto muito inteligente e politizado que é, sabe disso. A crise econômica foi um fator importante, mas não podemos esquecer que foi uma crise global, não algo que surgiu exclusivamente no Brasil ou por causa da nossa gestão. A queda no preço das commodities afetou várias economias dependentes da exportação de recursos naturais, como o Brasil. E, além disso, a Lava Jato, que foi importante para combater a corrupção, acabou gerando uma paralisia econômica. Empresas do setor de construção civil, por exemplo, que empregavam milhares de trabalhadores, tiveram contratos cancelados ou obras interrompidas, o que agravou a crise. Mas o que aconteceu foi que a oposição instrumentalizou essa crise econômica para justificar um golpe político. Em vez de buscarmos soluções conjuntas para enfrentar o desemprego e a inflação, o Congresso optou por me boicotar e criar um ambiente de caos. Não havia interesse em resolver os problemas do país, havia um interesse em me enfraquecer politicamente. A crise econômica foi real, mas foi manipulada politicamente para atender a interesses que estavam mais preocupados em derrubar o governo do que em resolver os problemas da população."

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20. Davi: "Presidenta, após o golpe, o governo que assumiu implementou uma série de medidas de austeridade, como a PEC do Teto de Gastos, que congelou os investimentos públicos por 20 anos, impactando áreas fundamentais como saúde e educação. A narrativa usada para justificar essas medidas era a de que o país estava quebrado e que era necessário cortar gastos para reequilibrar as contas públicas. No entanto, dados mostram que a pobreza aumentou, o desemprego continuou elevado e as desigualdades sociais se aprofundaram. Como você avalia o impacto dessas medidas de austeridade no Brasil, especialmente para a classe trabalhadora e os mais pobres, que foram os mais afetados?"

Dilma: "Essas medidas de austeridade foram um verdadeiro desastre, Davi. A PEC do Teto de Gastos, em particular, foi um golpe contra os direitos da população, pois congelar os investimentos públicos por 20 anos é basicamente condenar o país a um estado de estagnação, sem a possibilidade de expandir e melhorar serviços essenciais como saúde, educação e infraestrutura. A narrativa de que o Brasil estava quebrado foi usada como justificativa para impor uma agenda neoliberal que sempre teve como objetivo cortar os direitos sociais e beneficiar o mercado financeiro. O resultado foi a intensificação da pobreza, o desemprego elevado e a degradação dos serviços públicos. Durante o nosso governo, trabalhamos para promover a inclusão social e garantir direitos. Mas o que veio após o golpe foi a inversão dessa lógica, com a prioridade sendo o ajuste fiscal em detrimento da vida do trabalhador. As elites econômicas, que nunca aceitaram as políticas de distribuição de renda e inclusão que promovemos, se aproveitaram da crise para forçar essas medidas de austeridade. E quem pagou a conta foi o povo brasileiro, em especial os mais pobres, que viram seus direitos ser retirados, a renda diminuída e o acesso a serviços públicos cada vez mais precarizado."


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21. Davi: "Agora, falando sobre a Operação Lava Jato, sabemos que ela foi um marco no combate à corrupção, mas também foi alvo de críticas, principalmente pela sua condução e pelos efeitos negativos na economia e na política do país. Muitos especialistas argumentam que a Lava Jato, ao paralisar grandes setores econômicos e se envolver em um processo de judicialização da política, acabou contribuindo para a crise econômica e para o enfraquecimento de instituições democráticas. Como você enxerga o legado da Lava Jato para o Brasil, e quais foram os impactos que ela teve diretamente sobre seu governo e o golpe?"

Dilma: "Davi, eu sempre defendi o combate à corrupção, mas a forma como a Lava Jato foi conduzida precisa ser questionada, porque, além dos seus abusos, ela foi transformada em uma arma política contra o meu governo. A operação, longe de ser imparcial, se tornou parte de uma conspiração golpista. Primeiro, houve um impacto devastador na economia. A Lava Jato paralisou setores fundamentais, como o de construção civil e o de petróleo, o que resultou na perda de milhões de empregos e na interrupção de grandes obras, afetando diretamente o crescimento do país. Empresas que eram pilares da economia foram destruídas, não por suas práticas corruptas, mas pela forma agressiva e irresponsável como a operação agiu, sem se preocupar com as consequências sociais e econômicas. Além disso, a Lava Jato foi usada para enfraquecer o PT e o projeto progressista que representávamos. As investigações se tornaram seletivas, focando unicamente em nós, enquanto outros partidos e políticos, muitos envolvidos em escândalos, foram poupados. Essa operação foi instrumentalizada para criar uma narrativa que justificasse o golpe, promovendo uma verdadeira caça às bruxas contra nós. É claro que o combate à corrupção é essencial, mas ele deve ser feito de forma justa, dentro dos limites da lei e sem segundas intenções políticas. A Lava Jato, ao se afastar desses princípios, acabou comprometendo não só a economia, mas também a democracia brasileira."

[Encerramento]

Encerramento de Davi: "Bom, presidenta Dilma, chegamos ao final desta conversa tão rica e esclarecedora. Foi uma honra poder mais uma vez estar em sua companhia, discutindo temas tão importantes para o Brasil e para o futuro do nosso país. Eu, como sempre, fico muito privilegiado de poder compartilhar esse espaço com uma líder que, apesar de todas as adversidades, nunca desistiu de lutar pelo bem-estar do povo brasileiro e pela nossa soberania. Fico por aqui por hoje, agradecendo imensamente pela sua participação e pelo tempo que nos concedeu. Sabemos que a agenda é apertada, ainda mais com a senhora em Pequim, mas essa troca foi, sem dúvida, valiosíssima. Desejo à senhora uma boa tarde, ou melhor, quase um bom dia, já que aí em Pequim o fuso horário é bem diferente do nosso. Espero que possamos nos encontrar novamente em outra oportunidade. Um forte abraço e até a próxima."

Encerramento de Dilma: "Davi, foi um prazer participar desta entrevista com você e com a equipe da 'RLB'. Agradeço pela oportunidade de esclarecer pontos tão importantes e por essa conversa tão respeitosa e construtiva. É sempre um prazer poder dialogar com quem, como você, valoriza a democracia e entende o que realmente aconteceu no Brasil nos últimos anos. Desejo a você uma excelente tarde aí no Rio de Janeiro, e que sigamos firmes na luta por um Brasil mais justo e democrático. Um grande abraço, e até a próxima!"


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