Entrevista exclusiva com José Dirceu sobre o Mensalão: "A verdadeira vítima foi o Brasil, não o PT"
Por Davi Gustavo de Castro e Silva
18 de setembro de 2024, 18:45
José Dirceu, um dos maiores expoentes do Partido dos Trabalhadores, nos concede uma entrevista esclarecedora. Nela, aborda sua trajetória política, os desafios enfrentados durante os anos de perseguição política, e, claro, o escândalo do Mensalão. Com um tom firme e defensivo, Dirceu reafirma a narrativa de que o Mensalão foi uma armação política orquestrada pelas elites para desmantelar o projeto de transformação social do PT. Ele também comenta sobre a prisão de Lula, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, e sua opinião sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro.
- Perguntas sobre a trajetória política:
🔥 1. Como sua juventude influenciou sua visão política atual?
"Minha juventude foi forjada no calor das lutas estudantis e dos movimentos sociais. Fui um jovem que viu de perto a ditadura militar e a repressão às vozes que se levantavam contra as injustiças. Isso moldou minha convicção de que a única saída para o Brasil seria um projeto popular, que incluísse os trabalhadores e os mais pobres nas decisões políticas. O PT nasceu dessas lutas, e é com esse espírito que construímos cada uma de nossas vitórias. Fomos, somos e continuaremos sendo a voz do povo."
🚫 2. Você seria favorável a Bolsonaro? Se sim, por quê, e em qual grau? Se não, por quê, e em qual grau seria desfavorável?
"De forma alguma. Eu sou absolutamente desfavorável a Jair Bolsonaro, e não é apenas por discordar politicamente. Bolsonaro representa o retrocesso, a destruição dos direitos sociais e trabalhistas que levamos anos para conquistar. Ele promoveu uma política de ódio, de desmonte das instituições democráticas e de ataques aos mais pobres. Bolsonaro governa para a elite mais retrógrada deste país, para o agronegócio predatório, para os militares que se acham acima da lei. Em grau máximo, sou contra seu projeto de governo, que foi uma tragédia para o Brasil. Ele deixou um rastro de desemprego, fome, miséria e mortes na pandemia. Bolsonaro não apenas é um adversário político, ele é o símbolo de tudo o que o PT combate: autoritarismo, preconceito e o desprezo pelo povo."
🌎 3. Qual foi o papel das suas experiências internacionais em moldar sua postura política?
"Quando olhamos para o cenário internacional, percebemos que as elites globais sempre se colocaram contra qualquer tentativa de soberania popular. O neoliberalismo é uma arma contra os trabalhadores em todo o mundo. Durante minhas viagens e intercâmbios políticos, vi como as políticas progressistas enfrentam os mesmos desafios em todos os lugares. Nossa luta é global, e por isso o PT sempre manteve uma postura de solidariedade internacional, especialmente com nossos irmãos da América Latina."
💼 4. Quais são os principais desafios que você vê na política internacional e como você pretende enfrentá-los?
"O principal desafio é o imperialismo, liderado pelos Estados Unidos, que impõe uma agenda neoliberal a todos os países que ousam trilhar um caminho de independência. A saída para isso é o fortalecimento dos blocos regionais como os BRICS e a integração da América Latina. Temos que resistir ao domínio estrangeiro e construir um modelo de desenvolvimento que valorize nossos recursos e nosso povo. O PT sempre esteve na linha de frente dessa luta, e vamos continuar lutando por um Brasil soberano."
- Perguntas focadas no Mensalão:
💥 1. Como você se defende das acusações de envolvimento no escândalo do Mensalão?
"O Mensalão foi uma grande manobra política para desestabilizar o PT. O que aconteceu foi um ataque brutal ao projeto de mudança social que estávamos promovendo. Não há dúvidas de que a elite, incomodada com os avanços sociais, utilizou o Judiciário e a mídia para nos atacar. Fui transformado em bode expiatório de um processo político que não aceitava ver o pobre entrando na universidade, o trabalhador comprando sua casa própria. O que houve foi uma criminalização da política."
⚖️ 2. Você acredita que o julgamento foi imparcial?
"De forma alguma. O julgamento foi claramente político. A mídia golpista já havia condenado o PT antes mesmo de qualquer prova ser apresentada. O uso da 'teoria do domínio do fato', sem comprovações concretas, foi a ferramenta para nos destruir. O então ministro Joaquim Barbosa, com uma postura messiânica, conduziu um julgamento midiático, criando uma narrativa para satisfazer os interesses das elites e da direita."
📜 3. O que você faria diferente, se tivesse outra oportunidade de lidar com essa crise?
"Hoje, com o benefício da experiência, sei que subestimamos a capacidade da elite de nos atacar. Se fosse hoje, seríamos mais cuidadosos, mais estratégicos. Mas a verdade é que o projeto petista, de inclusão social e combate à pobreza, foi o maior acerto que tivemos, e por isso eles queriam nos destruir. O importante é que a luta não parou. Aprendemos com o Mensalão e seguimos em frente."
📰 4. Como você vê o papel da mídia nesse processo?
"A mídia brasileira foi o principal agente desse golpe. Sempre esteve do lado das elites, dos banqueiros, do agronegócio. Usaram o Mensalão para criar uma narrativa de criminalização da política petista. Transformaram o PT em vilão, enquanto escondiam os verdadeiros corruptos do sistema político. As famílias que controlam a mídia sempre foram contrárias a qualquer governo que tentasse distribuir renda e dar voz aos trabalhadores."
🎯 5. Qual foi a maior consequência do Mensalão para o projeto petista?
"A maior consequência foi o enfraquecimento temporário do partido, que eles conseguiram. Mas o PT é mais forte do que eles imaginam. Conseguimos reeleger Lula e, posteriormente, eleger a companheira Dilma Rousseff. O povo reconheceu que, apesar dos ataques, fomos o partido que mudou a vida das pessoas mais pobres. Hoje, com Lula novamente no poder, mostramos que nossa luta segue firme, apesar de todas as tentativas de nos destruir."
- Pergunta extra:
🔗 6. O que você acha da prisão do Lula e do impeachment da presidenta Dilma?
"A prisão de Lula foi a continuidade do golpe. Depois de nos atacarem no Mensalão, tentaram novamente com a Lava Jato. A prisão do maior líder popular do Brasil foi a maior injustiça da nossa história recente. Foi uma tentativa desesperada de impedir a volta do PT ao poder. Quanto ao impeachment da Dilma, foi um golpe com outro nome. Não houve crime de responsabilidade, o que houve foi um conluio entre setores da direita e do empresariado para retirar do poder uma presidenta eleita democraticamente. Foram dois golpes consecutivos, que tinham como único objetivo destruir o legado petista e barrar o projeto popular que o PT vinha promovendo."
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Conclusão: nesta entrevista exclusiva, José Dirceu defende com firmeza a narrativa de que o Mensalão, a prisão de Lula e o impeachment de Dilma foram manobras políticas orquestradas pelas elites para destruir o projeto de transformação social do PT. Dirceu deixa claro seu total repúdio a Jair Bolsonaro, considerando-o o símbolo do retrocesso e inimigo de tudo o que o Partido dos Trabalhadores representa. A narrativa apresentada é uma defesa clara e articulada, focada em demonstrar como o PT foi alvo de perseguições para impedir os avanços sociais e políticos que o partido promovia.
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