Entrevista com Arminio Fraga, ex-ministro da Fazenda no governo FHC
Por Davi Gustavo de Castro e Silva
22 de setembro de 2024
Pergunta 1: Senhor Fraga, o aumento das taxas de juros de 18% em 1999 para 45% em 2002 é um sinal claro de falha da sua gestão. Como você se sente em relação a isso? Pode realmente acreditar que estava no caminho certo ao priorizar os interesses do mercado em detrimento das necessidades da população?
Resposta: Agradeço a oportunidade de discutir isso. O aumento das taxas foi uma resposta a um contexto econômico extremamente desafiador. Em 1999, a inflação estava em torno de 8% e enfrentávamos a desvalorização do real, que trouxe uma pressão significativa sobre os preços. Era crucial controlar a inflação para garantir a estabilidade econômica e a confiança dos investidores. Sem essas medidas, o Brasil poderia ter enfrentado uma crise ainda mais profunda.
Pergunta 2: Mas isso soa como uma justificativa vazia. Enquanto o senhor se preocupava com os investidores, a população enfrentava cortes severos em saúde e educação. Como você justifica essa falta de sensibilidade social? Não parece que suas ações apenas aprofundaram a crise social e a desigualdade?
Resposta: Entendo a crítica. Contudo, era necessário ter um controle fiscal rigoroso para evitar um colapso financeiro. Naquele momento, o déficit fiscal ultrapassava 5% do PIB. Os cortes em áreas sociais foram dolorosos, mas essenciais para garantir a sustentabilidade das contas públicas. Se não houvesse uma base fiscal sólida, a capacidade do governo de investir em saúde e educação estaria ainda mais comprometida.
Pergunta 3: Então, sua solução foi sacrificar o bem-estar da população em nome da falsa "estabilidade"? Muitos de nós, à esquerda, vemos suas decisões como um golpe direto nas políticas sociais. Como você pode se defender diante do aumento acentuado da desigualdade e da miséria?
Resposta: É um legado complexo. Busquei estabilizar a economia para que, no futuro, pudéssemos reverter danos sociais. Um crescimento econômico sustentável é a base para investimentos em políticas sociais. Em 2001 e 2002, a inflação e a instabilidade poderiam ter levado a um PIB ainda mais negativo, afetando empregos e rendas. A prioridade era restaurar a confiança para garantir um crescimento robusto a longo prazo.
Pergunta 4: E o que você diria a quem acredita que suas decisões resultaram em um retrocesso para as classes trabalhadoras? Você não teme que sua abordagem tenha sido um erro catastrófico, comprometendo o futuro do país e aprofundando as desigualdades?
Resposta: Reconheço a gravidade das desigualdades e a necessidade de políticas mais inclusivas. A estabilidade econômica é crucial, mas não pode ser à custa do desenvolvimento social. Precisamos de um diálogo contínuo sobre como equilibrar responsabilidade fiscal com políticas que atendam às necessidades da população. O crescimento deve beneficiar todos, e isso exige um compromisso com reformas que aumentem a equidade.
Comments
Post a Comment